compre aqui sem sair de casa, nas melhores LOJAS ONLINE e colabore no patrocínio do jornal nova tribuna. ENTRE AQUI !
Ibiúna: Entre a Maquiagem dos Números e a Urgência de um Projeto Real
A verdadeira geração de emprego e renda não pode ser um projeto importado, uma solução de prateleira aplicada de cima para baixo. A prosperidade sustentável nasce de dentro para fora. Ela precisa ter o cheiro da nossa terra e o rosto da nossa gente. É ilusório acreditar que a solução virá de fora enquanto abandonamos nosso maior potencial: o campo. A cada jovem da zona rural que deixa sua origem por falta de perspectiva, perdemos não apenas um agricultor, mas um guardião da nossa identidade.
BLOG
10/26/20254 min read
Ibiúna: Entre a Maquiagem dos Números e a Urgência de um Projeto Real


Milton Giancoli


Cenário do Emprego Formal e da Assistência Social em Ibiúna (2025)
Trabalhadores com Carteira Assinada (CAGED):
O dado mais recente disponível publicamente para o município de Ibiúna indica um estoque de 15.352 empregos formais em agosto de 2025. O "estoque" representa o número total de vínculos celetistas ativos no município naquela data.
Famílias em Programas Sociais:
Bolsa Família: Em junho de 2025, o programa atendeu 7.605 famílias no município de Ibiúna.
Cadastro Único (CadÚnico): O número de famílias inscritas no Cadastro Único, que é a porta de entrada para diversos programas sociais do Governo Federal, era de 11.235 famílias em setembro de 2025.
Análise Comparativa
Ao cruzar as informações, observamos um cenário socialmente relevante em Ibiúna:
Proporção: O número de famílias beneficiárias do Bolsa Família (7.605) corresponde a aproximadamente 49,5% do número de trabalhadores com carteira assinada (15.352).
Alcance do Cadastro Único: O total de famílias no Cadastro Único (11.235) representa cerca de 73% do total de empregos formais. Isso indica que um número expressivo de famílias em Ibiúna está em situação de vulnerabilidade socioeconômica, mesmo que nem todas recebam o Bolsa Família, pois o CadÚnico serve de base para outros auxílios.
Conclusão
Os dados mostram que para cada dois empregos com carteira assinada em Ibiúna, existe aproximadamente uma família recebendo o Bolsa Família. A comparação evidencia que, embora haja um contingente de trabalhadores inseridos no mercado de trabalho formal, existe uma parcela muito significativa da população que depende diretamente de programas de transferência de renda do governo para garantir suas necessidades básicas.
Em meio ao barulho das redes sociais, onde influenciadores celebram cada novo dado de emprego como uma vitória de programas estaduais genéricos, é preciso ter a coragem de olhar pela janela. Aqui em Ibiúna, a realidade insiste em nos mostrar uma verdade mais complexa e, por vezes, mais dura. Os números frios, quando analisados sem paixão, revelam uma dependência social alarmante que caminha lado a lado com os postos de trabalho formais. Ver que para cada dois empregos com carteira assinada temos quase uma família inteira dependendo de auxílio governamental não é um sinal de sucesso, mas um sintoma de que a base da nossa economia está doente.
A verdadeira geração de emprego e renda não pode ser um projeto importado, uma solução de prateleira aplicada de cima para baixo. A prosperidade sustentável nasce de dentro para fora. Ela precisa ter o cheiro da nossa terra e o rosto da nossa gente. É ilusório acreditar que a solução virá de fora enquanto abandonamos nosso maior potencial: o campo. A cada jovem da zona rural que deixa sua origem por falta de perspectiva, perdemos não apenas um agricultor, mas um guardião da nossa identidade. A insistência em não criar programas robustos de educação técnica voltada à agricultura moderna é uma sentença de esvaziamento do campo, condenando nossa vocação natural ao esquecimento e trocando um futuro de produção por um presente de incertezas na cidade.
Da mesma forma, ostentamos o título de "Estância Turística" como um troféu empoeirado na estante. A verdade é que essa honraria nunca saiu do papel, nunca se transformou em uma experiência real para quem nos visita. O turismo não se constrói com placas na entrada da cidade, mas com uma infraestrutura acolhedora e, principalmente, com capital humano qualificado. De que adianta ter belezas naturais se a nossa cidade, o cartão de visita inicial, reflete descaso e falta de planejamento? A ausência de mão de obra com formação específica para hotelaria, gastronomia e guiamento transforma nosso potencial em uma vitrine negativa, afastando o visitante que busca uma experiência de qualidade.
Diante deste cenário, as ações imediatas não podem mais ser adiadas. A curto prazo, é fundamental iniciar um choque de gestão na zeladoria da cidade, tornando nossos espaços públicos minimamente agradáveis, e, ao mesmo tempo, promover cursos vocacionais rápidos e focados, em parceria com o comércio local, para qualificar atendentes, garçons e recepcionistas. É preciso agir no agora, preparando o terreno para uma mudança mais profunda.
A longo prazo, a visão precisa ser estratégica e corajosa. Isso significa criar uma política municipal de incentivo à permanência do jovem no campo, com a fundação de uma escola técnica agrícola ou a integração de um currículo robusto nas escolas existentes, que ensine sobre gestão, tecnologia e sustentabilidade na produção rural. Significa também desenvolver um plano diretor de turismo que vá além das intenções, definindo roteiros, incentivando o empreendedorismo local e condicionando o crescimento da cidade a um padrão de qualidade que justifique o título que carregamos.
O desenvolvimento de Ibiúna não será medido pela estatística do mês, mas pela solidez do alicerce que construirmos. Precisamos parar de celebrar a maquiagem e começar a tratar da saúde do nosso município, com iniciativas locais, focadas em nossas verdadeiras vocações: a agricultura forte e um turismo que seja, de fato, uma experiência, e não apenas um título vazio.