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FESTIVAL DA CEREJEIRA ATRAI TURISTAS A SÃO ROQUE, ENQUANTO IBIÚNA ABANDONA SUAS ÁRVORES DE CEREJEIRA NA VILA LIMA

Enquanto o rosa delicado das flores de cerejeira transforma São Roque em um cartão-postal e atrai milhares de turistas, um cenário de abandono marca as poucas árvores que restam na entrada da Vila Lima, em Ibiúna. A celebração da cultura japonesa e da beleza natural em uma cidade contrasta com o completo descaso na outra, evidenciando duas realidades distintas.

BLOG

7/15/2025

Enquanto o rosa delicado das flores de cerejeira transforma São Roque em um cartão-postal e atrai milhares de turistas, um cenário de abandono marca as poucas árvores que restam na entrada da Vila Lima, em Ibiúna. A celebração da cultura japonesa e da beleza natural em uma cidade contrasta com o completo descaso na outra, evidenciando duas realidades distintas.

Em São Roque, o Parque Bunkyo Kokushikan foi o palco de um espetáculo de cor e tradição durante o Festival das Cerejeiras. Com mais de 800 pés da árvore, o local se tornou um mar de tons rosados, celebrando a florada da Sakura, símbolo de renovação e felicidade na cultura japonesa. O evento, que ocorreu no fim de semana, atraiu visitantes de diversas regiões, encantados pela atmosfera mágica do parque.

"A tradição diz que quando você está passando sob ela e é atingido por uma flor, isso traz sorte e felicidade", revela Roberto Tanaka, organizador do festival. Essa crença parece se materializar no sucesso do evento e no cuidado que a cidade dedica às suas árvores, que no Brasil podem viver até 50 anos.

Em contrapartida, a imagem das cerejeiras no entroncamento para a cidade de Piedade, em Ibiúna, é desoladora. Os galhos secos e a aparência de abandono total mostram uma oportunidade perdida. Onde poderia haver um portal de boas-vindas florido, há apenas o registro do descaso, um triste lembrete do potencial desperdiçado pela falta de cuidado e visão.

Milton Giancoli

Festival da Cerejeira atrai turistas a São Roque, enquanto Ibiúna abandona suas árvores de Cerejeira na Vila Lima

As árvores na entrada da Vila Lima não são apenas "feias"; elas estão doentes e em sofrimento. Do ponto de vista técnico, o que observamos é o resultado de uma série de falhas críticas no manejo:

  1. Falta de Poda Estrutural e de Limpeza: As cerejeiras, especialmente as variedades ornamentais, necessitam de podas anuais. A poda de limpeza remove galhos secos, doentes ou quebrados (como os que vemos na imagem), que são portas de entrada para fungos e pragas. A poda de formação e arejamento permite que a luz solar penetre na copa, estimulando a floração e a saúde geral da planta. Sem isso, a árvore gasta energia com partes inúteis e se torna fraca e suscetível.

  2. Nutrição do Solo Inexistente: O solo compactado de beira de estrada é pobre em nutrientes. Árvores ornamentais, que produzem florações intensas, são "esfomeadas". Elas exigem adubação periódica, rica em fósforo e potássio, para garantir a exuberância das flores. O aspecto raquítico das árvores de Ibiúna sugere um esgotamento total dos recursos do solo.

  3. Estresse Hídrico: Embora adaptadas, as cerejeiras sentem os períodos de estiagem. A falta de um plano de irrigação, especialmente nos meses mais secos que antecedem a floração, compromete diretamente a capacidade da árvore de produzir flores, resultando em florações ralas ou inexistentes.

O que São Roque faz tão bem no Parque Bunkyo Kokushikan é justamente aplicar essa ciência com disciplina. O resultado é um ciclo virtuoso: árvores saudáveis produzem flores espetaculares, que atraem pessoas, que geram receita e orgulho, que por sua vez financiam e incentivam a continuidade dos cuidados.

O Custo do Descaso: Mais do que Apenas Árvores

O abandono em Ibiúna representa um custo que vai além do visual. Representa um custo de oportunidade:

  • Identidade e Orgulho Local: Um portal florido para a cidade cria uma identidade positiva, um marco de boas-vindas. Gera orgulho nos moradores e uma primeira impressão inesquecível nos visitantes. O cenário atual, infelizmente, comunica negligência.

  • Potencial Turístico e Econômico: Ibiúna está geograficamente próxima de um polo de sucesso (São Roque). Ela poderia se beneficiar criando seu próprio "Roteiro das Cerejeiras", ainda que em menor escala. Isso poderia atrair visitantes, movimentar o comércio local (cafés, restaurantes, artesanato) e colocar a cidade no mapa do turismo rural e de contemplação.

  • Capital Natural e Ambiental: Árvores saudáveis fornecem sombra, melhoram a qualidade do ar e servem de abrigo para a fauna local. Deixar que um patrimônio arbóreo como este se degrade é também uma perda ambiental.

Um Plano de Recuperação e Revitalização para Ibiúna

Como especialista, afirmo que nem tudo está perdido. A recuperação é possível com vontade política e envolvimento comunitário. Um plano de ação poderia seguir os seguintes passos:

  1. Diagnóstico em Campo: Contratar um agrônomo ou técnico florestal para avaliar cada uma das árvores remanescentes. É preciso saber quais podem ser salvas com podas drásticas de recuperação e quais, infelizmente, já estão comprometidas e precisam ser substituídas.

  2. Ação Emergencial: Realizar a poda sanitária e de revitalização nas árvores recuperáveis. Fazer a análise do solo e iniciar um programa intensivo de adubação e irrigação para fortalecê-las antes do próximo ciclo de floração.

  3. Criação de um "Bosque Linear": Iniciar um novo projeto de plantio ao longo de toda a marginal que circunda a cidade. Em vez de árvores esparsas, planejar um corredor verde, um bosque linear que, em poucos anos, criaria um túnel de flores. A escolha de mudas de qualidade é fundamental.

  4. Envolvimento da Comunidade: Este é o passo mais crucial. Criar um programa "Adote uma Cerejeira", envolvendo comerciantes locais, escolas e a comunidade nipo-brasileira da região, os quais deram origem a este plantio, que tem profundo conhecimento e apreço pela espécie. A prefeitura pode fornecer o suporte técnico, e a comunidade ajuda a cuidar e a fiscalizar.

Em suma, a distância entre a glória de São Roque e o abandono de Ibiúna não é medida em quilômetros, mas em visão, cuidado e ação. Ibiúna ainda tem a chance de replantar não apenas árvores, mas o orgulho de sua paisagem e o seu potencial futuro.

A história das cerejeiras em São Roque e Ibiúna é uma poderosa metáfora sobre como o cuidado, a visão de futuro e o respeito ao nosso patrimônio natural e cultural podem gerar frutos (e flores) de valor inestimável. Nossa esperança é que exemplos positivos como o de São Roque sirvam de inspiração. Porque a natureza é resiliente e, com um pouco de atenção e trabalho, a beleza que hoje parece perdida em alguns locais pode florescer novamente com ainda mais vigor.

Na visão de um especialista consultado: